Sol Dourado em Odemira

Comida muito saborosa, atendimento muito simpático e prestativo

Você se lembra do velho Capitão Haddock, embriagado de angústia, vítima de alucinações infernais enquanto estava perdido há dias e no meio de uma desintoxicação forçada, desmamado do uísque desde que aquele maldito Tintim o levou para uma nova emboscada nas profundezas do Saara quando ele não pedia nada a ninguém e queria beber sua bebida tranquilamente? Pois bem, eu sou o Capitão Haddock da dupla que partiu pelas trilhas do caminho dos pescadores. Sair de Vila Nova de Milfontes de madrugada, debaixo da enchente, com uma mochila insuportavelmente pesada nos ombros, daquelas que cisalham as juntas. E percebemos, à medida que avançamos o melhor que podemos na areia que cobre as arribas, à chuva, tentando proteger-nos do vento marítimo que tudo estilhaça, que saltámos um passo. Partimos por 40 km (desvios incluídos). 40 km na chuva, ombros como marshmallows, pés como compota de maçã, rosto escarlate. Nervos em nós. Então, quando vimos uma luz na taberna, uma lareira quente, beijamos os pés do dono. Poderiam ter sido os pés de qualquer chato, nós os teríamos beijado da mesma forma. Só precisávamos de um pouco de vinho e algumas cascas de queijo. No final, esses pratos cheios de comida chegaram como alucinações grandiosas. Tivemos que enfiar o nariz e os dedos nele, pegar um pouco mais de vinhaça e inalar tudo de novo para perceber que ainda não estávamos completamente mortos. E a vida nunca pareceu tão grandiosa.